terça-feira, 6 de abril de 2010

Undergrounds de Belém: eles só precisam de um lar

terça-feira, 6 de abril de 2010


POR LEONARDO FERNANDES - DIÁRIO DO PARÁ

Tem um lugar, descendo a Travessa 14 de Abril, quase na esquina com a Avenida Magalhães Barata, emparedado entre um salão de beleza e um prédio residencial, onde um pequeno clube de rock resiste. Escuro, barulhento, com paredes abarrotadas de velhos cartazes, flyers de shows e poster de bandas de metal. À primeira vista, parece não haver nada de especial a respeito do Caverna Club, mas, para as dezenas de bandas que procuram um lugar ao sol no circuito underground de Belém, ele vem se tornando um verdadeiro lar.
“O que torna o Caverna um lugar especial é que ele mergulhou de cabeça em um segmento que todo mundo que quer manter distância”, explica Jayme Katarro, vocalista da banda Delinquentes.
Os parias da cena musical independente a que Jayme se refere são o punk, o hardcore e o metal, estilos extremos do rock, onde imperam a velocidade, a distorção e a brutalidade.
“Bandas desse tipo são consideradas, digamos assim, investimento de risco”, garante João Gabriel, dono do Caverna Club. Ele fala com conhecimento de causa. Por dez anos fez parte da banda de trash metal Undead, tendo que se revezar na posição de baixista e produtor do próprio grupo.
“Tanto a galera do metal quanto a do hardcore são um público fiel. Daqueles que não se incomodam com local, dia da semana ou hora para curtir um som. Se quem tem preconceito soubesse o quanto estão enganados”, diz o empresário.
Para provar o seu ponto, Gabriel abriu o Caverna, em junho de 2009, com o intuito de criar um espaço para tocar o som que gostava. Foi muito além disso, fomentando todo um circuito de bandas ainda carentes de espaço fixos para se apresentar.
“O Caverna deu um novo fôlego pras bandas e produtoras locais”, afirma Caroline dos Anjos, produtora do Coletivo Touro Velho Produções. Juntamente com seu sócio Taion Almeida, ela organiza, em parceria com o bar, o projeto Cavernalab, que abre espaço para bandas autorais.
“Quem acompanha shows de metal e punk na cidade sabe o quanto um lugar igual a esse fazia falta. Os shows são ainda muito precários. Geralmente eles são em lugares afastados, feios e sujos. Aqui a gente tem um espaço bom, com um som bom, que o dono sabe o que está fazendo e gosta do que está fazendo. O que mais a gente podia desejar?”, conta Caroline.

VIDA LONGA
O que Jayme deseja é que o Caverna Rock Clube possa se manter e não pereça tão rápido quantos seus predecessores. “Desses 20 anos tocando no Delinquentes, já vi muito bar e lugar pra tocar ir e vir. Isso acontecia porque só agora em Belém está se construindo uma cena forte, com profissionais, bandas. Antes era tudo esporádico, amador, fazia do jeito que dava. Esses lugares acabavam dando o passo maior que a perna e faliam logo em seguida. Acho que hoje, a cena está um pouco mais madura para comportar um empreendimento como é o Caverna, assim como outros que venham aparecer por ai”.
O discurso de Jayme vem embasado no relativo sucesso que o circuito de poprock e alternativo vêm experimentando na ultima década. No começo dos anos 2000, por iniciativa de uma produtora de eventos local, a Dançum Se Rasgum Produciones alguns espaços passaram por uma espécie de conversão e passaram a investir no estilo.
“Quando começamos em 2003, não tinha espaço pra banda autoral tocar em Belém. Tinha essa mentalidade de só chamar banda cover pra tocar e achar que não bandas daqui que trabalhavam com músicas próprias não iam dar dinheiro”, relembra Gustavo Rodrigues, produtor da Se Rasgum.
“Sabíamos que tinha um publico de nicho, que poderia dar retorno, e resolvemos apostar nisso por conta própria. Só depois que os empresários e donos de bar viram que dava público é que eles começaram a rever os seus conceitos e dar espaço”, conta Gustavo.
Um desses convertidos à nova ordem do rock em Belém foi o Café com Arte. O que já foi uma casa de chá para madames hoje é um dos templos da cena independente da cidade. “Se em 2003 me convidassem pra ir ao show do Suzana Flag ou do Stereoscope, eu não iria”, afirma Roberto Figueiredo, dono do Café com Arte. “Levou tempo pra eu ver o potencial de todas essas bandas e desse público. Antes, quem abria uma casa voltada pro rock era louco. Hoje, quem abrir uma casa de chá é que é”.
“Não existe uma cena que se construa sem espaço, programas de rádios, estudios, técnicos de som. Uma coisa puxa a outra. Aí isso atrai um público, novas ideias e segue para coisas maiores”, afirma Ismael Machado, jornalista e autor do livro “Decibéis sobre Mangueira: Belém no cenário rock Brasil dos anos 80”.
Ismael recorda que, no final da década de 1980, existiam espaços como Bar Celeste, Cogumelo e Adega, além do Teatro Waldemar Henrique, que ofereciam seu espaço frequentemente para shows. Mas, após brigas e confusões, principalmente a pancadaria ocorrida no festival Rock 24h, em 89, o estigma persiste até hoje. “Criou-se um preconceito em torno da figura do roqueiro que até hoje é difícil de mudar. Mas nem isso abala a popularidade desses ritmos. O metal, o punk, o hardcore são um estilo de vida. Se não tiver lugar pra tocar, eles voltam pro underground esperando a oportunidade de vir à tona novamente”, explica Ismael.

ENDEREÇOS
CAVERNA CLUB
Tv. 14 de Abril, entre Magalhães Barata e José Malcher (antigo Liverpool)

CAFÉ COM ARTE
Rui Barbosa, 1437, entre Av. Nazaré e Braz de Aguiar.


NA FOTO, DELINQUENTES POR JR MARDÔNIO

3 comentários:

  1. Tenho uns amigos que moram no Rio e tem uma banda de rock Chamada Cris Delyra,eles gostaria de vir tocar em Belém...Um otimo som tudo profissional e supers famosos

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  2. Caso queiram saber ou conhecer um pouco do trabalho dele e só entrar em contato comigo 82657678 que informo a eles e passo o site.

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  3. Caso queiram saber ou conhecer um pouco do trabalho dele e só entrar em contato comigo 82657678 que informo a eles e passo o site.

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