quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fosfosol: O dia em que a festa acabou

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Na matéria sobre os cinco anos de e-nation, o DJ Tinick comenta que um dos principais fatos que contribuiu para a mudança da cena eletronica paraense foi a proibição das raves em 2005. Lembrei dessa notícia publicada no jornal O Liberal de setembro do mesmo ano. Pra ler e comparar com a situação de hoje.

Acabou a festa clubber

Divisão de Polícia Administrativa proíbe as festas ao som de música eletrônica no Pará com o argumento de que nas raves acontece “o consumo desenfreado de drogas”

ESPERANÇA BESSA

Os clubbers podem ir guardando as roupas coloridas, os acessórios pisca-pisca e os pirulitos adocicados: as raves estão proibidas no Pará.
Aproveitando o rastro da portaria do Juizado Especial da Infância e Adolescência, que proíbe a presença de menores de 18 anos em bares e casas noturnas, a Divisão de Polícia Administrativa, com aval do Delegado Geral Luiz Fernandez, não concede mais nenhuma autorização para a realização de festas de música eletrônica.

O delegado Luiz Pascoal Alcântara, diretor do DPA, revela que não é de hoje que havia essa intenção, “primeiro porque o público é, na maioria, de menores de 18 anos; segundo, porque é uma festa que não tem horário para começar nem terminar; e terceiro que os organizadores não têm um sistema de segurança eficiente”.

Essa segurança seria necessária não só para coibir brigas, mas também o consumo de drogas. “Em festas de aparelhagem, por exemplo, o problema maior é na dispersão. Na festa em si não há problemas. O baile rave, se não tiver um controle para revista eficaz na entrada, acaba se permitindo o consumo desenfreado de drogas sintéticas, que causam um frenesi e uma agitação ainda maior no público que, repito, é formado na maioria de jovens”, diz o delegado, que põe nos empresários e nos promotores de eventos a culpa pela falta de limites. “Eles propagam a idéia de que a festa é livre, sem proibições. Estamos falando de comerciantes, não bandidos, mas a propaganda que eles vendem é que traz problemas”, diz.

O delegado afirma que não há nenhum preconceito quanto à cultura da música eletrônica, “que tem muitos profissionais sérios envolvidos”, mas sim ao formato das festas. Qual seria esse formato? “Nem quem organiza sabe dizer direito. A música é a base de um sistema eletrônico de som e as festas não têm hora para acabar”, descreve. Outra prova de que não há marcação, segundo ele, é que a delegacia também proibiu festas de aparelhagem de segunda a quinta-feira, e aos domingos o som tem que ser desligado à meia-noite.

“Tentamos disciplinar a realização das festas de uma maneira geral. A cautela maior com as raves é por causa dos menores de idade. Os pais perderam o controle, não sabem segurar os filhos. Resta aos pais ficarem de longe, preocupados, ligando para a delegacia pedindo para não liberarmos as festas. No final, a sociedade cobra de nós uma posição”, conta.

Alguns DJs previam uma decisão como a da DPA. “Em Florianópolis as raves estão proibidas há muito tempo. No Rio de Janeiro barraram, mas liberaram depois. E estavam querendo proibir em Goiás”, enumera o DJ Fábio Miranda. Presença certa nas raves de Belém, ele tem uma posição ponderada. “No flyer (folheto de divulgação de festas) sempre colocamos ‘não use drogas, ouça música’. Esse é o nosso lema. A determinação da DPA gerou uma discussão enorme entre os clubbers, mas teve muita gente a favor mesmo, porque o consumo de drogas estava ficando desenfreado, e isso afetava o nosso trabalho, porque todo mundo passou a associar a música com as drogas”, lamenta.

Fábio se sente prejudicado profissionalmente, afinal, é um mercado de trabalho que se retrai, mas acha que barrar festas não resolve e ainda é um ato preconceituoso. “O certo era fazer um trabalho pesado de conscientização. Quem organiza uma festa não tem culpa se alguém está usando drogas, e fechando as festas o público vai para as grandes casas noturnas classe A da cidade, cheirar cocaína no banheiro, ou vai tomar ecstase no pagode de domingo, ou vai se trancar em festas pequenas, em residências, só para consumir sem preocupação. Por que barrar só a música eletrônica? Estão olhando para nós com o mesmo preconceito que, na década de 70, se tinha com os roqueiros, por causa da maneira de vestir, dançar, por causa da música...”, analisa.

O empresário Roberto Pinheiro, um dos proprietários do Parque dos Igarapés - local que sediou inúmeras raves - acha que um contrasenso extinguir um modelo de festa que é tendência mundial, mas defende uma fiscalização mais efetiva. “O certo é ter trabalho em conjunto, dos empresários com a polícia. Acho correto que se tente organizar as festas, e evitar que jovens consumam drogas”.

Um comentário:

  1. Esse foi um momento bastante tenso que vivemos!

    É uma das características das raízes das raves aquele pensamento aberto, onde todas as pessoas se entendem, não há brigas, preconceito nem discriminação. Pensando dessa forma acabamos nos descuidando com as pessoas que não pensavam assim. O único problema nas raves até hoje foram as drogas, drogas essas que estão no meio de qualquer festa que se vai hoje, todos sabem disso! Acho que o que tínhamos que ter feito desde o início era proibir a entrada de menores nas festas, foi o fator crucial para que as autoridades tomassem essa postura. Tanto que não se vê nenhuma atitude parecida com essa onde existem maiores de idade. Fico lendo aqui e acho até graça de quantas bobagens as pessoas que tinham por obrigação estarem interados no assunto falam.

    Hoje, 4 anos depois, essa segurança frágil e a entrada de menores não existem mais. Deve ser por isso que devagar eles estão percebendo isso e abrindo o espaço para que as raves tenham uma visibilidade maior. Afinal, quem não quer ir pra uma festa e ter a certeza que vai voltar com tranquilidade?!

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